segunda-feira, 24 de março de 2008

A dura vida dos jovens licenciados

Fica aqui o testemunho de um episódio que comigo se passou um destes dias e me entristeceu profundamente, para não falar do sentimento de revolta que tive e que me leva a pensar que vivemos num país de loucos, tais são as contradições que encontramos nos discursos e nas atitudes dos nossos políticos.

Pois então:
Na semana passada fui entregar um curriculum vitae a uma escola para participar num concurso público cujo anúncio estava no site do governo. Para além, do curriculum e de outros documentos que tínhamos que entregar também devíamos preencher um documento fornecido pela escola.
Após o seu preenchimento, entreguei o mesmo à funcionária, que logo teceu o seguinte comentário após ter passado uma “vista de olhos” pelo documento:
- Quando vejo o nome desta licenciatura dá-me uma tristeza (funcionária);
- Mas porquê? Pergunto.
- Porque tenho uma filha que se formou nesta licenciatura e não conseguindo emprego em lado algum, emigrou o ano passado para a Suiça. Está na Suiça já fez um ano. (disse a funcionária com bastante tristeza no seu olhar).

Perante, o desabafo da senhora também eu fiquei desiludida e descrente, pois já não é a primeira nem será de certeza a última vez que ouço aquele discurso. Nos últimos tempos, esta é uma ideia patente no discurso dos jovens licenciados desempregados. È UMA VERGONHA. Jovens licenciados a serem OBRIGADOS a emigrar porque não conseguem arranjar colocação no mercado de trabalho português.

Realmente, não percebo o que o nosso governo quer. E não se trata só de licenciados em ciências sociais mas esta realidade pouco comentada no discurso dos nossos governantes abrange todas as licenciaturas. È UMA VERGONHA, repito. Eu conheço imensos casos iguais a este, inclusive de licenciados em enfermagem. È triste dizer isto, mas é verdade. Em Portugal não interessa ser licenciado porque como somos demasiado habilitados não arranjamos colocação. Temos que abandonar o nosso país, a nossa casa, a nossa família, os nossos amigos. Começo a pensar que o nosso primeiro-ministro tem que mudar seu discurso e as suas atitudes. Talvez deva apelar ao povo português para que este, em termos de escolaridade se deixe ficar, na melhor das hipóteses pelo 12.º ano e mais radical do que isso talvez deva começar a encerrar universidades, pois são aos milhares os alunos que de lá saem e ficam no desemprego.

Que me perdoem as pessoas, às quais posso atingir directa ou indirectamente com o meu discurso mas isto é a realidade do nosso país. O Sr. Eng.º e o seu governo têm que prestar atenção para este facto, que em termos sociológicos é desastroso. Com este fenómeno a aumentar de dia para dia, o seu desejo de motivar os portugueses a elevar as suas habilitações literárias, não se concretizará.

Actualmente, nos centros de emprego apenas se encontra ofertas cuja exigência em termos de habilitações literárias não excede o 9.º ano, na melhor das hipóteses o 12.º ano. Agora pergunto, perante este cenário qual a motivação que as pessoas poderão ter para elevar as suas habilitações literárias?

Poderão sempre dizer - “o saber não ocupa lugar”- é verdade. Mas também é triste possuir qualificações e por força das circunstâncias as ter que omitir, não é verdade? E o mais triste ainda é que pouco se fala deste fenómeno que é a emigração, não de jovens por si só mas de jovens licenciados. Qualquer dia podemos comparar o nosso país a uma Ucrânia, pois também muitos dos ucranianos que aqui trabalham na construção civil são licenciados. Pouco falta…..

Bolas, que vergonha de país…. Que vergonha de classe política…..

3 comentários:

Jeremias disse...

Há dias li um artigo no Público que dizia que já é tempo de deixarmos de acusar as Universidades e os alunos por escolher cursos com pouca empregabilidade, mas começar a culpar o próprio mercado de trabalho que não valoriza os recursos humanos com formação que Portugal tanto necessita.
O artigo defendia também a posição de certos «caçadores de talentos» que afirmam que um licenciado é sempre uma mais valia para qualquer posto profissional independentemente da sua área de conhecimento. Ou seja, não é tanto a necessidade de um especialista em X ou em Y mas a necessidade de viver numa sociedade que saiba valorizar o conhecimento (todo o conhecimento) e o ponha em prática nas políticas de empregabilidade.
Em Portugal o mercado de trabalho teima em ver os recursos humanos como um mal necessário para alimentarem os seus lucros e a estratégia continua a ser a de apostar em pessoas menos qualificadas e ao salário mais baixo possível.

Hum... vodka limão, p.f. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hum... vodka limão, p.f. disse...

No outro dia 2 adolescentes, talvez putos de 12, comentavam que não valia a pena estudar e tirar um curso superior “como gostaria o seu pai”, porque ficaria desempregado na mesma. Ok, o incentivo à escolaridade começa logo de pequeno…mas talvez a culpa seja de facto de quem permite a abertura de cursos superiores que não têm saída profissional. Tendo nós um nível de escolaridade baixo relativamente ao resto da Europa, há que arranjar forma de o elevar… hoje em dia até fica bem dizer que tenho um curso superior, mas sejamos francos…não querendo ferir susceptibilidades, para quê escolher um curso, tendo plena consciência de que à partida não vai servir para nada?...