quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eu, taberneiro, me confesso…

Bom dia caros taberneiros, clientes e amigos. Começo este dia por dizer que não me apetece escrever, não me apetece trabalhar, não me apetece fazer nada. Nada de nada. É uma força que se apodera de mim e me consome a minha existência. É uma razão consome todo o meu ser. Uma das coisas que mais ambiciono é… nada fazer na vida… e acreditem, que muito prazer tenho em servir copos, servir uns petiscos e mandar umas larachas. Mas na verdade o que mais gosto são estes momentos de introspecção, eu e o meu copo de aguardente caseira, o meu cachimbo de tabaco legal, na ausência do ilegal, e a minha pequena e limitada cabeça a navegar, pelo tempo, pela imortalidade que este blogue pode oferecer.
Eu pecador me confesso… confesso ser um sonhador, confesso ser um fundamentalista pela vida. Confesso que penso que a minha vida vai ter um final feliz. Admito que não estou contente mas que tudo vai mudar. Confesso que admito que sou sonhador, utópico, idealista. Talvez admita que não tenha um futuro risonho, mas continuo a lutar para mudar este triste fado. Esta minha intenção de ser reconhecido como um dos melhores taberneiros da Europa não é fácil. A fasquia é elevada, a concorrência é muita, tal como a qualidade da concorrência. Há que lutar todos os dias pela perfeição, há que travar todos os dias pela batalha do dia-a-dia… há lutar por todos os dias, superarmo-nos… como era bom ser tudo um conto, em que tudo corre bem, em que tudo é possível, em que podemos ser o que quisermos, em que podemos ser tudo… a realidade, infelizmente é outra. Temos de lutar, lutar, lutar e ainda lutar. Temos de acordar com a esperança de um dia melhor. Acordo com a esperança de todos os dias me superar a mim mesmo. Acordo sempre com o desejo que cada dia, seja um bocadinho melhor que o dia anterior. Utopia, utopia? Será uma utopia? Será que não podemos idealizar uma vida melhor? Teremos sempre que encontrar culpados para os nossos desaires da vida, se somos nós próprios a definir o rumo da nossa vida? É muito mais fácil culpar os outros, sacudir a chuva do capote, esconder a realidade dos outros, admitir perante nós que nós é que falhamos, nós é que escolhemos mal, nós é que não sabemos orientar a nossa vida… admitir que sou eu o responsável do meu insucesso, eu sou culpado pelo rumo que tomei e pelo mau estar que provoco em mim, aos que me rodeiam e aos que gostam de mim…
Vocês estão a pensar “este taberneiro está a alucinar”. É verdade. Estou embriagado pela vida, pelo insucesso, pela falta, pelo excesso da falta, embriagado pela ausência do futuro, pelo excesso de esperança. Esperança essa que não se traduz em certeza… como eu gostava de ser irracional, como eu gostava de ser um parvo, em que o céu estava prometido, gostava de ser um vazio de ideias, para não ver o futuro como um fim, mas sim como um desconhecido. Gostava de não ser mundano, para não ter objectivos. Adorava não ter objectivos para viver o dia-a-dia. “Felizes dos tolos, é deles, o reinos dos céus.” É feliz a vida de taberneiros, somos tristes mas contentes, servimos copos, partilhamos alegrias, aconselhamos quem precisa, engolimos amarguras, fazemos o sorriso quando nos apetece largar uma lágrima. Feliz do freguês que sente um apoio no intervalo do golo do tinto, feliz do freguês que vê um sorriso no momento de tristeza… feliz todo aquele que entra aqui e vê um sorriso amigo a qualquer hora do dia… E vocês? Conseguem ver o nosso espírito? Conseguem ver a nossa alma? Conseguem ver nos nossos olhos a esperança? A vontade traduzidas nas palavras, o empenho que acompanha os nossos actos? Será também esta tasca mais um utopia adicionada a muitas mais e que dá resto zero na adição de valores e resto zero na multiplicação de vontades realmente válidas?
Não quero acreditar em nada do que escrevi. Não quero que esta pequena, triste e vazia realidade se apodere de mim. Eu quero ser o que melhor posso ser, eu quero lutar por mim, pelos meus, pela minha dignidade. Quero lutar porque acredito que posso ser melhor. Acima de tudo, acredito, é verdade, acredito mesmo, que posso alterar o rumo da minha vida…
Quero agradecer a todas as pessoas realmente importantes na minha vida simples, de taberneiro que sou…

2 comentários:

Hum... vodka limão, p.f. disse...

Todos temos a nossa dose de utopia... fantasiamos e imaginamos como realmente gostaríamos de ser, ou como as coisas fossem... e aproveitamos ao máximo essa aventura, que se poderá transformar em realidade...

Não faz mal querer mais...
Não faz mal querer o melhor...

Não faz mal nenhum sonhar... se isso nos torna tão felizes... :)

Jaquim Pimpão disse...

E no fim de ler este "post", só me vinha à cabeça o último anúncio da "Frize" em que aparece alguém a imitar a voz do Socrates e a dizer "...Rir...porque portugueses com Frize são portugueses felizes..."
Por isso, só tenho a dizer-te isto, amigo bebe Frize que isso passa...conselho do nosso Primeiro Ministro...

Jaquim Pimpão