sábado, 7 de março de 2009

Darfur: será que os fins não justificam os meios?

O meu actual livro de cabeceira chama-se “I have a dream”, e é autobiografia de Martin Luther King. Nas páginas que já tive oportunidade de ler, Luther King fala de como Ghandi e a respectiva “política de não-violência” influenciaram a sua luta pelos direitos dos negros nos Estados Unidos da América.
Ghandi e Luther King foram dois grandes defensores dos direitos humanos, dois homens que fizeram a diferença e duas figuras que admiro profundamente.
No entanto, confesso que há situações de tal forma dramáticas e catastróficas que me levam a questionar se, em certas circunstâncias, os fins não justificarão os meios…
Uma dessas situações prende-se com a crise humanitária que há muito (há tempo de mais!) existe em Darfur.
Darfur é uma região do extremo oeste do Sudão, na fronteira com a Líbia, o Chade e a República Centro-Africana. A região é palco de um conflito decorrente de disputas entre os janjawid - milicianos recrutados entre os baggara, tribos nomadas africanas de língua árabe e religião muçulmana, e os povos não-árabes da área. O governo sudanês, embora negue publicamente que apoia os janjawid, tem fornecido armas e assistência e tem participado de ataques conjuntos.
Quando os combates se intensificaram em Julho e Agosto de 2006, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma Resolução que determinou o envio de uma força de manutenção da paz da ONU, composta de 20 000 homens, para trabalhar em conjunto com as tropas da União Africana presentes no local. O Sudão opôs-se à Resolução e, no dia seguinte, lançou uma grande ofensiva militar na região.
O conflito já fez mais de 200 mil mortos e cerca de 2,7 milhões de refugiados. Finalmente, depois de tantos anos de inércia da comunidade internacional, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu na passada quarta-feira um mandato de captura contra o presidente sudanês Omar Al-Bashir por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Resposta do senhor: deu imediatamente ordem de expulsão a 13 ONGs que operavam na zona, situação que, a manter-se, provocará uma verdadeira catástrofe humanitária.
Perante uma situação como esta, confesso que me interrogo fortemente se os fins não justificariam os meios, nomeadamente o recurso a meios bélicos. Se se actua para “salvar” o petróleo, não se deveria actuar para salvar seres humanos?

Imita Alces

P.S. Jaquim, obrigada pelas tuas ideias!

3 comentários:

Helder disse...

O problema é que ainda está bem na memória de alguns o que aconteceu na Somália, e o fracasso que foi a intervenção lá.

Jeremias disse...

Um bom artigo imita-alces!

Eu concordo com as acções bélicas para garantir os chamados "direitos humanos" nas Nações mas também entendo os problemas políticos que tais acções levantam. Por exemplo, devia Portugal ter intervido militarmente aquando do massacre em Timor? Estaria o povo português preparado para ir defender (e morrer por) uma terra na qual não tem interesses directos (ex: o petróleo, como bem dizes?). Seria um primeiro ministro que mandasse rapazes portugueses em acções milititares para morrer no Darfur louvado ou criticado?

Porque é aceitável termos 3000marines americanos a morrer numa acção no Darfur mas não 3000 fuzileiros de Portugal? Porque é que nós achamos que nestas questões são os soldados americanos que devem morrer como garante da paz?

São tudo questões sensíveis e discutíveis e não há resposta simples para elas.

Jaquim Pimpão disse...

Bom tema e bom post, no entanto, existem certos factos que devem ser mencionados, o Jeremias já disse algumas coisinhas que eu ia referir, e concordo com ele a 100%...
Mas não podemos esquecer que estamos integrados numa pseudo União Europeia, que nos retirou alguns poderes nacionais, mas no que concerne a poderes de defesa nacional, efectivamente a tal UEuropeia diz, "meus amigos" cada um por si, depois dá nisto, está sempre à espera que os States avancem com a agravante de que em África, os culpados são os europeus...
Que colonizaram, dividiram os territórios com linhas rectas tendo em conta os seus interesses e não os daqueles que efectivamente lá viviam...
Exploraram as riquezas quanto mais puderam, sairam de lá sem qualquer preocupação de ressarcir os anos de exploração...
E continuam hoje em dia a fazer negócios com esses países, governados por verdadeiros sanguinários, explorando de forma indirecta, pagando com chorudas contas bancárias em bancos europeus...
Falta referir o ponto que o Jeremias disse, será que o "egoísta" português aceitava ir para o Darfur, defender uma tribo???mas quando precisamos sabemos pedir e fingimos ser as maiores vitimas do mundo(até na crise)...
Por isso, cada vez mais gosto desta União Europeia, e nem posso ouvir falar em porcarias de "constituição europeia"...
Primeiro à que definir coisas básica