quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Este país não é para velhos

As eleições americanas estão na boca do mundo e eu, à semelhança dos meus compatriotas europeus, também tenho um candidato favorito sem sequer conhecer o programa eleitoral de cada um.
Acontece que a minha preferência vai para McCain o que me torna imediatamente fonte de repúdio pelos meus pares por uma escolha que não é, como Obama, fashion ou cool.
Passo-me a explicar: quando não olhamos para os programas eleitorais tendemos a escolher um candidato por outros factores que por vezes são importantes (como a experiência do candidato) mas que por vezes não são (como o quanto o candidato é jovem e bem parecido).

Azar o meu pois ser jovem e negro bem parecido está na moda. Representa na nossa complexa inconsciência «mudança». E é cool ser-se jovem e diferente quando não se gosta do sistema.
Azar o de McCain, pois é branco e velho. Sabem o que isto significa não sabem? Ele sabe-o muito bem pois os media já lhe deram todos os epítetos negativos apropriados: ser velho é a «continuação» das políticas acabadas e «um sucessor de Bush» (querem insulto mais negativo do que este?).

Eu sei que é moda gostar dos jovens bem parecidos que parecem representar uma mudança mas eu nunca fui de modas. Gosto de analisar outros factores como (imaginem) o currículo do candidato.
Vou-me só debruçar num aspecto que considero ser importante: o do serviço militar. É um tema importante para os americanos: a maioria dos pais americanos viu o seu filho ir para uma guerra ou outra (Coreia, Vietname, Kuwait, Afeganistão, Iraque) e prefere um candidato que passou por este inferno. Se o passou será certamente mais sensível a esta questão antes de preparar uma guerra e enviar os filhos da América para lá.
Compare-se os candidatos e vejam se o idealismo da juventude se compara à realidade dura da experiência.

Experiência de McCain (retirado e adaptado da Wikipedia):

Participou na guerra do Vietname como piloto num porta-aviões. Ia perdendo a vida num acidente onde morreram 134 soldados: o seu jacto foi apanhado numa sequencia de explosões em cadeia. Conseguindo escapar tentou ajudar um camarada a sair do seu jacto e foi apanhado numa das explosões, apanhando estilhaços nas pernas e peito.
Numa missão o seu avião foi derrubado e foi feito prisioneiro pelos norte-vietnamitas (na foto). Devido ao impacto no solo ficou ferido nas duas pernas e com um braço em muito mau estado. Foi rodeado por tropas norte-vietnamitas que o maltrataram com golpes e pontapés. A tortura passou por ter o seu pé esquerdo ferido com uma baioneta e o seu ombro deslocado com a culatra de uma espingarda. Foi colocado numa cela e interrogado diariamente. Quando se recusou a dar qualquer tipo de informação aos seus captores, foi golpeado até à inconsciência.
O governo Vietnamita ofereceu-lhe uma libertação ao fim de um cativeiro curto, no caso de reconhecer ter cometido crimes de guerra. McCain recusou alegando que o código militar estabelece que os prisioneiros são libertados pela ordem em que foram capturados.
Passou os primeiros dois anos e meio de cativeiro, em total isolamento. Suportou desde baionetadas nos tornozelos, e suspensões pelos pulsos que duravam horas. Quebraram-lhe de novo o braço esquerdo e várias costelas.
Chegou a um limite, tentou o suicídio e foi impedido pelos guardas.
Foi libertado passado 5 anos.



Experiência de Obama:
Leu coisas sobre a guerra na Universidade.


Azar o de McCain; este país não é para velhos.

3 comentários:

Hum... vodka limão, p.f. disse...

Difícil a escolha...

Uns cabelos brancos que nos ofereçam algumas garantias de experiência e sensatez...

ou um belo "sorriso colgate" que nos faz sorrir também pelo desejo de mudança... a tal "lufada de ar fresco" tão desejada e seus novos ideais...

O reverso...

políticas antigas e descredibilizadas...

o ímpeto inicial que vai esmorecendo, sofrendo e cedendo a constantes pressões...

Difícil a escolha...

Jaquim Pimpão disse...

Uff...Uff...estou cansado só a ler o teu post principalmente os feitos do Sr Mcain...mas como europeu, adoro a fantochada das eleições americanos, que fazem propopaganda a dizer que são a melhor democracia do mundo...e não dizer ser a maior porque os indianos são mesmo muitos e era perigoso...
Mas aquela bipolaridade americana, entre democratas e republicanos que faz com que 400 milhões de votantes tenham só duas opções de escolha, a mim faz-me tremenda confusão...
Há ditaduras no mundo que conseguem ter mais candidatos, e algumas até de melhor qualidade...
Meu caro Jeremias primeiro quero dizer relativamente ao teu coment de ontem...que dantes só tinhamos a "sexy" Odete Santos no parlamento, agora queixaste da Ana Drago?pois eu não, acho que é evolução, só que como tudo no país vai levar tempo até termos uma Cicciolina no parlamento...ainda somos uma democracia novinha com 30 anitos...mas com a Ana Drago já se vislumbra a luz ao fundo do túnel...

Jaquim Pimpão

Jeremias disse...

Caro Pimpão,

Apesar de reconhecer o lado intelectual da Ana Drago (já a ouvi num fórum e fiquei "encantado" pela sua voz doce e saber fundamentado) vou usá-la aqui também para reforçar o que disse: gosta-se dela essencialmente porque é jovem. É sexy, é o exemplo da self made woman.
Não lhe nego as qualidades mas, como disse no artigo, gostava de ver candidatos com mais saber de vida do que lido nos livros.... o saber livresco (e a Ana Drago tem muito) é ideológico, intelectual mas, por vezes, pode estar desfasado da acabrunhadora realidade.