quarta-feira, 24 de setembro de 2008

...fazer de conta... Segundo acto..

Bom dia caros taberneiros, clientes e amigos.
Começo este dia de serviço, pegando no mote do Jaquim. Fazer de conta.
Eu como sou Português, vou também fazer a minha parte. Vou fazer de conta que sou um tipo inspirado. Vou fazer de conta que sou um erudito e um expert em comunicação. Já estou a fazer de conta que estudei a lição, passo no exame e entrei na Universidade. Já sou doutorado e posso mandar uns "bitaites", e tenho razão naquilo que escrevo. E como até vejo televisão e a sua publicidade, faço de conta que sou dono de um Banco. Se o banco é meu, posso comprar tudo, o banco paga. Eu sei que a vida está difícil, mas com tanta facilidades, para mim e para uns tantos que não fazem metade do meu esforço, porque não posso fazer de conta que em tudo? Aliás, andamos todos a fazer de conta. Continuamos a fazer de conta que tudo isto vai passar. Até governo faz de conta que nós somos burros. E somos, mas nós fazemos de conta que somos espertos, que não vemos o quanto eles nos enganam e fazem de conta que não. Vivemos numa sociedade em que uns fazem de conta que são Doutores e Engenheiros e muitos mais são doutores a fazer de conta... Se a minha avó tivesse um tubo de escape, fazia de conta que era uma motorizada. Se pudesse usar a roupa do meu pai, fazia de conta que era um homenzinho... Se tivesse vocação para politicamente ser de esquerda, ora então, fazia de conta que era um intelectual. Com tanto fazer de conta, e conta e mais conta, estou apto para o exame de matemática. O governo fez provas fáceis e assim fazemos todos de conta que até sabemos desta merda. É um fartote. Mas se virmos bem, este faz de conta é antigo. Desde o início da nação Portugal, andamos a fazer de conta que somos os maiores. É claro, por arrasto ainda sofremos desse mal. Só não dizemos mal pela nossa "Mundanal Afeiçom". Éramos um grande povo, conquistamos terrenos a Espanha. Depois foi a reconquista cristã, expulsámos os Mouros. Mais tarde foram os oceanos e dividimos o mundo com Espanha. Somos os melhores, faz de conta. Neste momento até temos um PC chamado Magalhães e o Primeiro-ministro faz de conta que é uma inovação nossa, e todos nós fazemos de conta que não sabíamos que a China, a Índia, Itália e outros países estão adiantados 2 anos neste projecto mas com nome diferente. É um faz de conta colectivo. O Faz de conta resume-se aquela máxima “mais vale parecer que saber”. Os nossos governantes são o melhor exemplo. Fazem de conta que estudam os dossiers, fazem de conta que estão a fazer serviço público e que não fazem de conta no trabalho…
Só nós aqui na tasca é que não fazemos de conta em nada, é tudo genuíno. Nem muito menos fazemos de conta que estamos doentes para ganhar o subsídio de doença…
Amigos não façam, de conta, bebam desta maravilha que por cá temos, a verdadeira Ginjinha de Óbidos, em copinho de chocolate. Como somos generosos, têm sempre direito ao reforço da dose.
Um grande abraço

3 comentários:

Helder disse...

Não seremos todos actores sociais!?

Jeremias disse...

Uma óptima reflexão e um sério candidato ao prémio "melhor post da tasca!"
Gostei, em particular, da liberdade literária da expressão "Se a minha avó tivesse um tubo de escape, fazia de conta que era uma motorizada"... acho que devíamos também ter uma categoria para estas expressões criativas.

Hum... vodka limão, p.f. disse...

Realmente, como é que o Américo começa com um "bom dia" apenas, acaba com um "abraço" e tudo o que diz pelo meio parece uma bola de neve que não conseguimos travar...

Mas que imaginação... :)