quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O meu lobby é melhor que o teu

Eu, Jeremias Brutus, não me posso queixar. Faço parte daquela minoria de portugueses que se identifica com "os que têm". Neste momento tenho um emprego, tenho uma família, tenho uma casa, tenho um automóvel e tenho um telemóvel. O que mais posso pedir?
É claro que como ser humano nunca estou satisfeito com o que tenho e procuro sempre ter um pouco mais e a desejar um pouquito mais ainda. Neste momento gostava de ter dinheiro e condições para fazer frequentemente (digamos uma, duas ou três vezes por ano) férias no estrangeiro.
Se eu vos dissesse que achava que a Assembléia da República devia discutir estes assuntos na sua agenda, e passar os dias a discutir "pacotes de incentivos para férias no estrangeiro para pessoas de classe média que já têm tudo" vocês diriam que estava a ser egoísta; sendo este país constituido maioritariamente por pessoas que "não têm" seria injusto os políticos usarem o prime time da AR com esta matéria. Em primeiro lugar vêm a agricultura e as pescas, a educação, a política de emprego, a política energética e a saúde. Não faz isto sentido?

Parece que não, que não faz. Em Portugal os deputados entregam-se actualmente em discussões sobre os casamentos de homossexuais. Em minha opinião, um pequeno "luxo" como as minhas férias nas Bahamas. Afinal de contas em Portugal uma pessoa tem liberdade em escolher a sua sexualidade e liberdade em exercer a sua sexualidade. Mal de nós se isto não existisse. Mas o que se discute agora parece ser se se pode passar um "recibo" a dois homossexuais que pretendem celebrar o contracto social que tem o nome de casamento. Não acho isto prioritário.

Os lobbies existem em todo o lado e sabemos muito bem que existem na política. Por vezes a ingenuidade pode-nos levar a crer, como "certa esquerda" nos quer fazer acreditar, que os lobbies são apenas feitos pelas empresas, em particular as petrolíferas. Chamam-lhe "os interesses instalados". Nome pomposo.
Curioso é que essa mesma "certa esquerda" só parece usar o seu tempo de antena para defender um pequeno grupo de pessoas e os seus interesses: "legalizem as drogas", "legalizem o aborto", "legalizem o casamento homossexual". Não há nada de errado em defender ideias e, em certa medida, os grupos sociais que querem beneficiar delas. Mas há uma "certa esquerda" que parece identificar-se, retirando a máscara política, com lobbies. Ou, dito de outra forma, essa esquerda parece ter sido eleita principalmente pelas pessoas que querem estas liberdades. Uma forma socialmente aceite de lobby.

Estas questões não são novas. Já tivémos um lobby do "queijo limiano" que, se bem se lembram, usou apenas um deputado para conseguir o que queria ("aprovem o queijo e eu aprovo o orçamento de estado", se bem me lembro).

Talvez esteja a ser pessimista ou mesmo paranóico. Mas, acreditem, ainda não desisti de ver um dia a AR discutir as minhas férias nas Bahamas. 

1 comentário:

Hum... vodka limão, p.f. disse...

Gostei especialmente da frase "passar um "recibo" a dois homossexuais...", porque na verdade é o que parece...

Também concordo quando dizes que a tal esquerda foi eleita por um grupo específico que aspira por certas liberdades...

Também gostaria de ver as minhas féris discutidas na AR... queres apoio Jeremias?