quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Historia e opinião

Os historiadores andam atarefados. Com a saída de Bush da Casa Branca começa-se a fazer um balanço da sua presidência e a fazer prognósticos sobre a forma como a sua ciência, a "História" o verá. E as primeiras impressões não são animadoras. Uma reportagem da CNN diz que a "História" o poderá ver como "incompetente".

Eu não partilho necessariamente desta visão apressada e identifico-me mais com a opinião de outros historiadores que invocam as circunstâncias e conjuntura mundial para mostrar que Bush, ao contrário dos seus antecessores, não teve a vida fácil.

Veja-se Bill Clinton. Herdou a América livre da guerra fria de Reagan. Saíu antes da América do terrorismo de Bush. Governou em paz e colocou ordem na casa. É um presidente amado. Como não poderia ser? As circunstâncias eram boas.

Bush, porém, começou a governar com o episódio do 11 de Setembro. Enfrentou ameaças dos Países Árabes e tomou decisões difíceis, como a invasão do Afeganistão e Iraque. Teve de lidar com uma Coreia do Norte que dizia "vamos fazer mísseis nucleares e rebentar com isto tudo" e um Irão que dizia "Queremos um programa nuclear para fins pacíficos mas queremos varrer Israel do mapa ao mesmo tempo que negamos categoricamente a existência do Holocausto".
Bush herdou também catástrofes naturais graves, como o Katrina, e instabilidades económicas como a que se assiste agora.

Teve Bush culpa destes "males"? Alguns dizem que Bush poderá ter pago por alguns erros da administração anterior; o fracasso dos serviços secretos em prevêr o 11 de Setembro poderá ter sido, em certa medida, um erro vindo da administração Clinton. Mas outros culpam Bush directamente por muito dos males que lhe surgiram porque a forma como lidou com esses males agravou a sua importância.

Pessoalmente acho que Bush não teve a vida nada facilitada. Não terá sido fácil decidir o que fazer depois de ver o World Trade Center e o Pentágono em chamas. Ou saber o que fazer a Saddam quando este não permitiu 12 inspecções das Nações Unidas ao seu programa nuclear aumentando o medo que este estivesse a desenvolver um programa nuclear secreto (Saddam já usara armas químicas, e precisamente contra parte do seu povo, a etnia Curda). Ou o que fazer dos ditadores do que ele roturou "eixo do mal" (Coréia do Norte e Irão).

Assim, olhando para os factos como aconteceram, o julgamento que faço de Bush não é o das decisões que tomou que, com o tempo, se revelaram erradas . A maior crítica que faço a Bush é o de nunca ter reconhecido que errou. Até ao fim vimos um presidente que obstinadamente não quis reconhecer as más decisões que tomou e a gravidade das suas consequências. E isto, parece-me, pode ser mais grave que as próprias decisões e o legado deste extremamente impopular presidente .

1 comentário:

Black Label disse...

Bush governou uma América desiludida com um presidente democrata que não soube honrar os valores familiares que a maior parte dos americanos tanto valoriza e que, na ausência de outras críticas de maior relevância, foi desacreditado perante a opinião pública por uma imprensa ávida de escândalos. Bush governou “à republicano” e, com todas as certezas e todas teimosias próprias deste partido, não se soube esquivar à mesma imprensa que desacreditou o seu antecessor quando esta o confrontou com os maus resultados das decisões que tomou, nomeadamente no que respeita à política externa. Para além disso, herdou do seu pai a tendência para a gaffe, e esse facto, aliado ao seu envolvimento mais que notório ao lobbie do petróleo, criaram na opinião pública uma imagem de um cowboy que “dispara primeiro e pergunta depois”. Parece-me ser essa a imagem à qual irá ser associado nos próximos anos, se calhar injustamente… ou talvez não!