Por uma espiga de milho

O cartoon que apresento aqui é da autoria de Michael Ramirez, vencedor deste ano do prémio Pulitzer na categoria de cartoon editorial.

É um cartoon profundíssimo que nos deixa sem palavras. E, infelizmente, há em nós a percepção que este cartoon retrata a realidade tal e qual como ela é, só exagerando na curta distância que separa as duas personagens.

Efectivamente, gostamos de culpar os países "consumistas, imperialistas, expansionistas, capitalistas" pelas desgraças que acontecem um pouco por todo o mundo e desejamos esquecer a todo o custo que o que faz girar esse "consumismo, imperialismo, expansionismo e capitalismo" somos nós, consumidores, pelas exigências que fazemos ao mercado. O cartoon esquece o lado politicamente correcto da questão e coloca o dedo na ferida: quem tira a espiga à criança subnutrida do país subdesenvolvido sou eu, o consumidor do país desenvolvido e não o ganancioso empresário que fabrica o etanol a partir da espiga.

Há dias contactei, por messenger, uma amiga que faz missão em África. Ela, isolada há quase 2 anos do mundo ocidental não sabia ainda da actual crise. Eu, isolado da crua realidade do mundo subdesenvolvido, não sabia que as populações com que ela trabalha alimentam-se essencialmente de funge, alimento feito à base de milho. O milho, descobria eu, é a base da alimentação de milhões de pessoas e povos. Para populações que vivem com menos de um dólar por dia, como grande parte das populações africanas, um aumento de preço deste alimento é insuportável.

Esforcemo-nos por ser mais sensíveis a esta questão. As nossas acções têm consequências muito sérias nos mais desafortunados do planeta.